sábado, 23 de setembro de 2017

Pacto pela Vida: desafios além da repressão

Estratégias adotadas pela gestão estadual no enfrentamento à violência têm gerado controvérsia

Segundo o secretário de Defesa Social, violência caiu nos últimos três meses / Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Segundo o secretário de Defesa Social, violência caiu nos últimos três meses
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
RENATA MONTEIRO
rmonteiro@jc.com.br
Na tentativa de frear a escalada da violência em Pernambuco, o Executivo estadual pôs nas ruas, na última quinta-feira, 1.500 novos policiais militares. Até março de 2018, segundo o secretário de Defesa Social Antônio de Pádua, outros 1.300 militares finalizarão o curso de formação e, até janeiro de 2018, 1 mil policiais civis estarão aptos a assumir seus postos. A ofensiva do governo à criminalidade passa ainda pela instituição de concurso que visa abrir, anualmente, 500 vagas para a Polícia Militar (PM).


A preocupação do governo Paulo Câmara (PSB) com a insegurança no Estado tem uma razão: desde os dois últimos anos (2005/2006) da gestão Jarbas Vasconcelos (PMDB), os pernambucanos não presenciavam um descontrole tão severo no setor de segurança. A cada semana, crimes violentos chamam a atenção do País, como os que ocorreram no último final de semana em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, quando dois homens tiveram os corpos queimados dentro de um veículoe em Caruaru, no Agreste do Estado, que culminou com um jornalista ferido à bala.

CONTROVÉRSIAS

As estratégias adotadas pela gestão estadual, no entanto, geram controvérsias. Segundo a coordenadora-executiva do Gabinete de Assistência Jurídica às Organizações Populares (Gajop), Edna Jatobá, as medidas apenas mascaram que o problema da violência em Pernambuco está muito mais ligado à gestão do que a um déficit no policiamento. “O governo aponta vários causadores da criminalidade e se perde dizendo que vai resolver a questão da segurança contratando mais policiais, mas isso foi feito por muito tempo e não deu certo”, pondera.
Antônio de Pádua admite os problemas enfrentados pelo PPV, mas não aponta alternativas para reestruturar o programa que vão além do reforço no policiamento. “Nós temos números altos, o governo não nega isso. É por isso que a gente está trabalhando. Nos últimos três meses já sentimos uma diminuição na violência, estamos fazendo ações próprias de policiamento integrado e a resposta está aí. Esperamos agora que essa diminuição permaneça até o final do ano”, diz.

“O governo fecha os olhos para os programas de prevenção que existiam no Pacto, para os valores de transversalidade do Pacto, para a articulação com outras políticas, ele não consegue observar o que deu errado no Pacto. Não existe política certa com resultado ruim”, comenta Edna Jatobá, em referência à frase do governador Paulo Câmara, que na solenidade de formação dos PMs afirmou que “o Pacto está certo, os resultados é que são desfavoráveis”.

VIOLÊNCIA ASCENDENTE

Em 2007, ano da criação do PPV, Pernambuco contabilizou 4.591 homicídios, número já inferior ao que foi registrado em 2006 (4.634). Até 2013, o programa viveu sua melhor fase. Naquele ano, ocorreram 3.100 assassinatos. De lá para cá, a curva só subiu e 2017 registrou os piores oito meses desde o início do projeto, com 3.735 crimes letais intencionais.
Entre as causas para o aumento da criminalidade no período, Jatobá aponta a falta de ações voltadas para os egressos do sistema prisional, a desaceleração da economia do País e deficiências na gestão de segurança do Estado. “Se tivéssemos pensado além da repressão da violência, sustentaríamos o saldo positivo do Pacto pela Vida por mais tempo. Em um momento de crise, as políticas públicas têm que observar a situação e tentar articular melhor a assistência social”, observa.

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