segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Técnico

Nikita fala sobre falta de investimento na Natação e projeta futuro do esporte no Brasil


NE10
Nikita foi um dos que carregaram a Tocha Olímpica no Recife / Foto: Guga Matos/JC Imagem
Nikita foi um dos que carregaram a Tocha Olímpica no RecifeFoto: Guga Matos/JC Imagem
O grande mentor da natação pernambucana, João Reinaldo da Costa Lima Neto, o Nikita, faz parte da história de grandes nomes da atualidade como Etiene Medeiros, Joanna Maranhão e Adriana Salazar. Vencedor como atleta, ícone como treinador e talentoso para descobrir e aprimorar talentos, Nikita concedeu uma entrevista para oPortal NE10 sobre o momento da natação no Estado, falta de investimentos no esporte e críticas ao modo como foi feita a passagem da Tocha Olímpica da Rio-2016. Confira:

- O senhor teve o primeiro contato com a natação em 1961. De lá pra cá, Pernambuco vive o melhor momento do esporte na história?

Não, não estamos em um bom momento, pelo contrário. Os talentos “sumiram” e os últimos estão em São Paulo, como Joanna, Etiene e Clarissa [Rodrigues].

- A estrutura que é oferecida aos atletas no Brasil hoje é compatível para competir no mesmo nível das principais potências internacionais? E Pernambuco? Se não for, o que falta?

Não, pelo contrário, ainda hoje dependemos de poucos técnicos e talentos que "correm atrás" e que estão em poucos Clubes que têm patrocínios e tradição de valorizar a natação. Isso no Brasil inteiro.
O que falta é uma Confederação que valorize. Principalmente os técnicos, e isso inclui o envio dos que tenham as qualidades citadas anteriormente para os melhores centros no Mundo para uma reciclagem e que, na volta, assumam o compromisso de atuar como multiplicadores.

- Joanna Maranhão, que é uma das atletas formadas pelo senhor, conseguiu o melhor desempenho de uma brasileira. Na sua opinião, o Brasil está no caminho certo para conseguir a tão sonhada medalha olímpica na natação feminina? O que precisa melhorar?

Joanna, como Etiene, são excessões, o que chamamos de “fora se série”. Elas poderiam ter tido melhores desempenhos se a CBDA tivesse feito o investimento que falei acima. Joanna está nadando a sua quarta Olimpíada, isso parte por seu talento e força de vontade, mas também pela absoluta falta de renovação no Brasil. Acredito que ela não enfrente mais um ciclo olímpico mas, se quiser e com a natação brasileira do jeito que está, certamente ainda irá à Tokio.

O caso de Etiene é diferente. Ela é velocista e seu azar é que sua prova, os 50m costas, em que é recordista mundial em piscina curta e vice campeã mundial em piscina longa, não tem na olimpíada.

- Como está o trabalho de renovação da natação no estado. Novos talentos estão surgindo que são esperança de virarem grandes nomes no futuro?

Não acredito por conhecer a atual estrutura. Além disso, em Pernambuco temos cerca de 8 meses do ano em que a temperatura da água das piscinas não é favorável ao alto rendimento.
Precisaríamos de grandes investimentos para enviar nossos melhores nadadores para outros estados ou para o exterior nestes períodos. Outro meio seria uma piscina que fosse coberta ou que usasse um sistema de refrigeração que eu usei no SESI da Torre e no Português para melhor controle da temperatura da água.

- A Olimpíada no Rio de Janeiro trouxe efeitos positivos em questão de investimento ao esporte no também no Estado?

Não acredito. Estamos vendo isso tudo, mas os governos não dispõem de recursos para o investimento necessário e, pessoalmente, acho que estes recursos precisariam primeiro atender as necessidades nas áreas da saúde, educação, segurança e saneamento para, só depois, ir para o esporte de alto nível.
Se a saúde e a educação tivessem a atenção necessária, a base do esporte, que passa pelas aulas de educação física e iniciação esportiva na escola, resultaria no que falta no Brasil, que é a massificação na formação de atletas.
Sem essa massificação vamos continuar com poucos atletas que, embora muito bons e talentosos, ainda estão em um nível inferior aos grandes atletas que estamos vendo nesta Olimpíada.

- Qual a acessibilidade do esporte para classes econômicas mais baixas? É um esporte caro para ser praticado?

Acho que não é muito caro, mas que até pela ausência de uma cultura esportiva até as pessoas que podem pagar não querem assumir compromissos.
Como exemplo, cito a minha academia, onde temos uma boa quantidade de crianças em idade de formação, mas que a maioria só quer nadar duas vezes por semana, o que é insuficiente para formar nadadores. Acredito que se o Estado tivesse boas piscinas, com bons professores formadores, que atendessem as classes sociais que não podem pagar pelas escolas particulares, poderíamos sim alcançar uma maior massificação.

- Esse ano o senhor carregou a Tocha Olímpica em Pernambuco. A emoção se equipara a das suas grandes conquistas como atleta e treinador?

Não. Apesar de um evento da maior importância, a forma como foi feita não contemplou o esporte olímpico. A imensa maioria dos condutores tinham pouca ou nenhuma vinculação com o esporte. Foram indicados pelos patrocinadores. Achamos - e conversei com muitos colegas atletas e professores - que a seleção dos condutores deveria valorizar primeiro os atletas, depois os profissionais do esporte, isto incluindo toda uma equipe multidisciplinar de apoio ao esporte, inclusive os profissionais da mídia esportiva.
Por isso fui lá. Mas, sinceramente sem empolgação, embora tenha tido reconhecimento pela trajetória não só de nadador, mas principalmente de treinador e formador.

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