Venda de peixes nos mercados do Recife e Olinda é afetada pela desinformação
Comerciantes reclamam que a presença do óleo nas praias colabora para que a população não confie na qualidade do pescado
![Em Olinda, comerciantes esperam compradores. Alguns reclamam de queda de até 80% nas vendas / Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem Em Olinda, comerciantes esperam compradores. Alguns reclamam de queda de até 80% nas vendas / Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem](https://jconlineimagem.ne10.uol.com.br/imagem/noticia/2019/10/24/normal/e0b203f7e109df001619c06f58940b33.jpg)
Em Olinda, comerciantes esperam compradores. Alguns reclamam de queda de até 80% nas vendas
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Edilson Vieira
Repórter de Economia
Repórter de Economia
A falta de informação sobre as consequências do derramamento de óleo no litoral nordestino está afetando o comércio de pescados em mercados do Recife e Olinda. Os comerciantes se sentem prejudicados e alguns já relatam queda nas vendas de até 80%. É importante lembrar que até agora não há recomendação, de qualquer órgão, sobre proibição de consumo deste tipo de alimento.
No mercado de peixes do Pina, Zona Sul do Recife, o peixeiro John Gleydson se diz um dos mais prejudicados. “O movimento aqui caiu uns 50% desde que começou essa história de óleo na praia, há uns 15 dias. Parece que as pessoas estão com medo de comprar”, disse Gleydson, afirmando que vendia uma média de 100 quilos de peixe por semana, mas agora não passa dos 50 quilos. “O povo só quer saber do camarão porque sabe que é de cativeiro”, afirmou o comerciante que está estabelecido no local há 10 anos.
Na bancada do peixeiro popularmente conhecido por Rob Gol, os peixes do tipo Cioba, Pescada Amarela, Cavala, Garoupa e outras espécies recém-chegadas, todos frescos, aguardavam compradores na manhã desta quinta-feira (24). “O movimento caiu uns 10%, só não foi pior para mim porque os restaurantes aqui da região continuam comprando” diz, com ar aliviado, Rob Gol. Por precaução, ele mesmo reduziu os estoques. Deixou de comprar aos pescadores locais a costumeira quantidade de até 500 quilos por semana e hoje trabalha com 300 quilos. “Prefiro trabalhar com peixe fresco em vez do congelado. Pra não perder a mercadoria tô comprando menos dos fornecedores”, justifica.
QUALIDADE
A venda direta a restaurantes também é o alento de Nelson Barbosa de Lima, mais conhecido por Enéas da Lagosta. Ele se apressa em exibir as guelras encarnadas e os olhos brilhantes dos peixes que têm para venda como quem quer atestar a integridade do seu produto. “O peixe aqui é limpo. Eu mesmo já comi hoje. Tu acha que o peixe é besta de comer óleo?”, pergunta Enéas como forma de convencer o cliente de que o peixe dele é mesmo “limpo”. “Os restaurantes não deixaram de fazer encomenda. Mas gente comprando aqui que é bom...”, diz Enéas, que tem 30 anos de experiência no ramo.
Em Olinda, no bairro do Carmo, o tradicional ponto de vendas que reúne cinco peixarias, na Rua do Sol, estava praticamente vazio quando a reportagem chegou. “Hoje era pra isso aqui estar cheio de gente. Olha só como está”, disse com o semblante também desolado a comerciante Alessandra Cristina da Silva. Ela revela ter recebido uma compradora que só se interessou em levar a Tilápia, por ser peixe de água doce. “Não adianta a gente dizer que não recebemos peixe de nenhuma dessas praias invadidas pelo óleo. Não adianta falar que muitos peixes que são vendidos aqui são de outros estados. A comunidade tá com medo de comprar”, desabafou Alessandra, afirmando que em uma boa semana comercializava até 100 quilos de pescado e, desde o inicio deste mês, a média caiu para 20 quilos. Na peixaria ao lado, Sandra Souza nomeia o responsável pelo seu prejuízo com a queda de 50% nas vendas. Para ela é a desinformação que ganha espaço e se espalha pelas redes sociais. “Basta aparecer na TV um peixinho morto na praia para o povo achar que está tudo contaminado. Se estivesse morrendo peixe em grande quantidade no litoral a vigilância sanitária já teria dado o alerta. Mas isso não aconteceu”, argumenta Sandra que diz também trabalhar com espécies vindas do Pará, Maranhão e Ceará.
Indiferente a celeuma, a representante de vendas Sany Cabral foi ao mercado de peixes de Olinda, como faz toda a semana. Comprou dois quilos de Cioba fresca. “Não pode faltar peixe na minha casa”, diz ela argumentando que confia na qualidade do que comprou. “Eu sei de toda essa polêmica envolvendo o óleo, mas se tivesse algum problema de contaminação as autoridades já teriam proibido a venda”, diz com firmeza.
No mais tradicional ponto de vendas de pescados do Recife, o Mercado de São José, região central da cidade, os comerciantes estão divididos. Embora o movimento estivesse fraco para uma quinta-feira, alguns comerciantes alegavam que a procura pelo pescado já havia caído por conta da situação econômica. A comerciante Ruth de Miranda, com mais de 50 anos de mercado, afirmou que os compradores diminuíram porque “o povo está sem dinheiro”, disse ela,e minimizou a polêmica em torno da falta de certeza sobre uma possível contaminação do pescados do litoral pelo petróleo. “essa conversa ainda não chegou por aqui”, garantiu Dona Ruth, alegando que boa parte dos pescados comercializados no Mercado de São José vem de outros estados. “Anchova, Corvina, Tainha, Sardinha, Cavalinha... todos esses peixes vendem bem aqui e vem tudo do Sul do País”, defende a comerciante. A conversa é interrompida pelo também comerciante Demilton Gomes. Com uma certa exaltação ele diz que “deveria deixar de se falar nessa poluição”, se referindo ao óleo, porque isso assusta os compradores. “Meu movimento caiu 60%. O que eu apuro não dá nem para pagar os impostos”, protestou.
GALERIA DE IMAGENS
Comerciantes reclamam que a presença do óleo nas praias deixa a população desconfiada
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