domingo, 29 de julho de 2018

Pesquisa traz raio-x de hábitos culturais do Recife e outras capitais

Entre as 12 cidades pesquisadas, Recife é a que menos lê e a que mais vai ao Carnaval

O Cinema São Luiz é o espaço cultural mais citados pelos entrevistados do Recife / JC Imagem
O Cinema São Luiz é o espaço cultural mais citados pelos entrevistados do Recife
JC Imagem
Diogo Guedes
Em relação a outras 11 capitais brasileiras, Recife é a cidade onde as pessoas menos leem. Por outro lado, é o local com mais ligação aos festejos populares – com destaque para o Carnaval. Esses são alguns dos dados revelados pela pesquisa Cultura nas Capitais, divulgada nesta semana pela JLeiva Cultura & Esporte, que pela primeira vez incluiu a cidade na amostragem.
A pesquisa traz entrevistas em 12 capitais do País: além do Recife, estão lá Belém, Manaus, Fortaleza, São Luís, Salvador, Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. O levantamento é o principal do Brasil sobre hábitos culturais, apontando o índice de pessoas que praticam atividades como a leitura ou a visita a museus e outros equipamentos.
Desde 2010, a instituição atua na área, mas com pesquisas focadas principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. “É a primeira vez que fazemos um levantamento com alcance em todas as regiões. Isso é importante porque a cultura no Brasil padece de poucos indicadores, e as pesquisas que já existem não dialogam umas com as outras. A nossa ideia é fazer pesquisas regulares, com metodologias semelhantes, para poder comparar regiões e as evoluções dos dados”, explica Ricardo Meirelles, coordenador da pesquisa e membro do núcleo de estudos e pesquisa da JLeiva Cultura & Esporte.


Até pela dimensão territorial e populacional – as cidades escolhidas concentram 33 milhões de habitantes de 12 anos ou mais, e mais de 10 mil deles foram entrevistados entre junho e julho de 2017 –, o levantamento contou com incentivo público, via Lei Rouanet e Proac-SP. Para Ricardo, o principal dado da pesquisa é a importância da cultura para a população. “Se pegarmos quem respondeu que realizou alguma das 14 atividades citadas, temos um universo de 31 milhões de pessoas que tiveram contato com pelo menos uma delas”, conta o coordenador. “Assim, 20 milhões de pessoas foram ao cinema e 10 milhões ao teatro e ao museu.”
Ao mesmo tempo, o levantamento mostra um outro lado da moeda: a quantidade de pessoas que nunca compareceu às atividades citadas. “Um em cada três nunca pisaram o pé em um teatro, o mesmo número nunca foi a um museu. Mais de 60% nunca viu um concerto de música clássica. 15% nunca leu um livro. Esses números são impressionantes, mostram que existe um gargalo”, analisa Ricardo.
Existem dois pontos que dificultam o acesso à cultura. A desigualdade de renda influencia no acesso à cultura, mas o principal fator, mostra a pesquisa, é a escolaridade. “A educação tem um peso maior. E é uma questão grave, porque a escolaridade, para uma parcela mais velha da população, quase não se resolve mais”, comenta o coordenador. “A exclusão do acesso à cultura aumenta com a idade em todos os lugares em que há pesquisas como essa – na França, por exemplo, as pessoas diminuem a frequência a partir dos 60 anos. No Brasil, essa queda já começa a acontecer a partir dos 25 anos”, continua.

RECIFE

A pesquisa deve circular pelas capitais participantes – o Recife ainda não tem apresentação confirmada, mas a previsão é para setembro. Para Ricardo, é um momento importante, porque ajuda a jogar luz em números como o da leitura no Recife, o mais baixo entre as capitais. “Não temos indícios suficientes para avaliar o dado. A escolaridade e a renda menores explicam um pouco, mas não tudo. Como se faz muito poucas pesquisas desse tipo no Brasil, não temos como colocar o número em contexto, saber se houve uma evolução ou regressão no índice no Recife”, argumenta o pesquisador.
A Cultura nas Capitais ainda mostrou a capital pernambucana como a cidade carnavalesca por definição: cerca de 47% da população compareceu ao festejo (em Salvador, o número é de apenas 25% e, no Rio, chega a 36%). “Além disso, as festas juninas são muito presentes”, atesta Ricardo.
Para o coordenador, o levantamento é importante para alimentar políticas públicas de cultura: ele mostra, por exemplo, a quantidade de pessoas que gostariam de ter acesso a um evento mas não foram nos últimos 12 meses. “E não digo público apenas pensando no governo: são dados que auxiliam projetos da iniciativa privada e da sociedade civil. É possível notar quem nunca comparece a um tipo de evento e quem sempre vai. A pesquisa também revela como as pessoas se informam sobre atividades culturais: na TV, na internet, em jornais. Isso pode ser útil também”, conclui Ricardo.

ALGUNS NÚMEROS

- Percentual de pessoas que realizaram atividades culturais nos últimos 12 meses nas 12 capitais pesquisadas:
Livros: 68% / 15% nunca
Cinema: 64% / 9% nunca
Jogos eletrônicos: 55% / 32% nunca
Show: 46% / 22% nunca
Festas populares: 42% / 28% nunca
Feiras de artesanato 40% / 30% nunca
Bibliotecas: 39% / 21% nunca
Dança 34% / 33% nunca
Museus: 31% / 30% nunca
Teatro: 31% / 37% nunca
Blocos de Carnaval: 26% / 48% nunca
Circo: 19% / 26 % nunca
Saraus: 17% / 58% nunca
Concertos: 11% / 66% nunca
- 9% dos entrevistados disseram não ter ido a uma atividade cultural nos últimos 12 meses
- 7% dizem praticar música, 6% dizem produzir conteúdo audiovisual (fotos e vídeos), e 5% fazem artesanato
- Mulheres têm mais acesso que homens a livros, feiras de artesanato e dança
- Homens têm mais acesso que mulheres a cinema, shows, festas populares, bibliotecas, museus, teatro, circo, saraus e concertos
- Público LGBT vai mais a todas as atividades culturais e de lazer: 16% a mais em shows, 15% em bibliotecas, 14% em festas populares, 13% em cinema. E trabalha mais com cultura: 17%, ante 8% dos que se declaram heterossexuais
- Acesso a cinema, museus e teatros é maior entre brancos; a shows de música e espetáculos de dança, entre negros; menores percentuais são registrados entre quem se declarou pardo
- Gêneros musicais preferidos nas 12 capitais:
Sertanejo: 37%
MPB: 27%
Rock: 21%
Gospel: 21%
Pagode 17%
Pop: 17%
Forró: 16%
Samba: 14%
Rap: 13%
Funk: 13%
Brega: 4%
- Gêneros musicais preferidos no Recife
Sertanejo: 22%
MPB: 28%
Rock: 11%
Gospel: 20%
Pagode 22%
Pop: 8%
Forró: 37%
Samba: sem dados
Rap: sem dados
Funk: 10%
Brega: 28%
- Instituto Ricardo Brennand é museu mais citado do Recife, com 23% de menções. O segundo é o Museu do Homem do Nordeste e o Museu do Recife, com 6% cada, seguidos pelo Museu da Abolição, com 5%
- Locais mais visitados do Recife: Cinema São Luiz (71% foram, 94% conhecem) / Casa da Cultura (66% / 93%) / Teatro de Santa Isabel (47% / 90%) / Paço do Frevo (35% / 86%) / Instituto Ricardo Brennand (37% / 80%)
- Festas populares: Festas juninas 67% / Carnaval 47% / Eventos populares ou folclóricos 12%
- Percentual de pessoas que realizaram atividades culturais nos últimos 12 meses no Recife:
Livros: 56%
Cinema: 55%
Jogos eletrônicos: 52%
Show: 46%
Festas populares: 46%
Feiras de artesanato 41%
Bibliotecas: 36%
Dança 31%
Museus: 26%
Teatro: 25%
Blocos de Carnaval: 47%
Circo: 20%
Saraus: 13%
Concertos: 9%
- 42% dos recifenses só vão a eventos gratuitos; 35% vão a mais a eventos gratuitos do que pagos; 17% vão mais a eventos pagos que gratuitos; 7% só vão a eventos pagos.

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